O cenário do couro em plena pandemia
Mesmo ocupando patamares secundários nas receitas da pecuária de corte, o couro verde (produto não-curtido) se tornou mais uma receita na hora de fechar as contas. Por ser uma renda oriunda da carcaça bovina, seu preço se equipara, aproximadamente, a 96% do valor do boi gordo e a atividade divide o pós abate com a extração de sebo e miúdos, outras fontes de renda muito bem aproveitadas pelo setor.
Segundo a CIBC (Centro das Indústrias de Curtumes do Brasil) e a Secex (Secretaria de Comércio Exterior), instituições ligadas ao mercado coureiro e à exportação, respectivamente, o couro movimentou por volta de US$ 1,44 bilhão compilados em 448,7 toneladas no ano de 2018, o que gerou um efetivo interessante na economia brasileira e foi responsável pela manutenção e criação de diversos empregos nas diversas escalas de beneficiamento do produto. Na ocasião, os principais exportadores foram, respectivamente, China com 25,4%, Itália com 17,3% e Estados Unidos com 17,1% do total.
Após a o desenvolvimento do couro sintético, a indústria do curtume vem sofrendo com uma pequena desvalorização de seus preços e desde o ano de 2019 também lida com a diminuta força de compra do consumidor nacional, já que uma crise econômica vaga pelo país há anos. Em 2014, o valor pago pelo quilo do couro abatido girava por volta de 8 vezes o valor do couro em abril de 2019, o que culminou na maior abertura do setor para o mercado externo em busca de melhores preços por suas mercadorias.
Com mais de 80% dos produtos importados, o setor encontrou, literalmente, barreiras nas negociações fora do Brasil em meio ao cenário atual e restrições nas importações como consequência da pandemia que assola o ano de 2020. Além das exportações, o mercado do couro sentiu a parada na compra de seus produtos mais refinados, couros já beneficiados e comumente usados pelas indústrias automobilística e moveleira. Já o comércio do couro menos processado teve menores consequências na crise e manteve os níveis de produção e comercialização estáveis se comparado a meses anteriores.
A situação acarretou numa maior aproximação entre variadas instituições do ramo no painel Novos Rumos no setor Coureiro-calçadista. Entre diversas propostas mencionadas, estava uma maior participação do governo, no intuito de disponibilizar maiores linhas de crédito às empresas. Porém, tal medida é dada como um simples fôlego para um curto espaço de tempo, já que projeções apontam uma volta gradativa da economia chinesa, a maior consumidora do couro brasileiro. Tal processo voltaria a viabilizar negócios com o país asiático, o que é geraria reflexos simultâneos no Brasil.
Nas palavras do presidente executivo da AICSul, Moacir Berger, é possível notar as dificuldades atuais, a surpresa da crise e a esperança de retomar a produtividade em breve: “Essa pandemia, no meu modo de entender, chegou de surpresa, e é de surpresa que ela vai embora. E espero que consigamos conciliar o tempo entre a ciência e a economia, para que não se perca espaço e que a economia não perca sua importância.”
Fonte: Exclusivo, Pasto Extraordinário e CIBC.
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